sábado, 29 de outubro de 2011

Tem pão velho?

Era um fim de tarde de domingo, a pessoa estava molhando o jardim da casa quando foi interpelada por um
garotinho com pouco mais de Nove anos, dizendo:
- Tem pão velho?

Essa coisa de pedir pão velho sempre me incomodou desde criança.
Na adolescência descobri que pedir pão velho era dizer:
- me dá o pão que era meu e ficou na sua casa.

Olhei para aquela criança tão nostálgica e perguntei:
- Onde você mora?

- Depois do zoológico.

- Bem longe, hein!

- É... mas eu tenho que pedir as coisas para comer.

- Você está na escola?

- Não. Minha mãe não pode comprar material.

- Seu pai mora com vocês?

- Ele sumiu.


E o papo prosseguiu, até que eu lhe disse:
- Vou buscar o pão, serve pão novo?

- Não precisa não, a Senhora já conversou comigo!


Esta resposta caiu como um raio.
Eu tive a sensação de ter absorvida de toda a solidão e a falta de amor desta criança.
Deste menino de apenas Nove anos, já sem sonhos, sem brinquedos, sem comida, sem escola e tão necessitado
de um papo, de uma conversa amiga.

Que poder tem o gesto de falar e escutar com amor!
Alguns anos já se passaram e continuam pedindo "pão velho" na minha casa e eu dando "pão novo",
mas procurando antes compartilhar o pão das pequenas conversas, o pão dos gestos que acolhem e promovem.

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